FEMINICÍDIO E SUICÍDIO: A Urgência de Diálogos Reais na Sociedade e na Escola.

FEMINICÍDIO E SUICÍDIO: A Urgência de Diálogos Reais na Sociedade e na Escola.

Um relato real e emocionante sobre violência doméstica, feminicídio e suas consequências devastadoras na vida de crianças e adolescentes. Um chamado à ação para escolas, famílias e sociedade.

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O texto que você está prestes a ler NÃO nasceu da teoria, MAS DA DOR. Foi escrito a partir de experiências reais, tristes e marcantes, vividas por mim em um ambiente escolar, num projeto social, além de um caso recente de feminicídio seguido de suicídio ocorrido em julho de 2025, na cidade de São José do Rio Preto-SP.

Mais uma mulher foi morta por aquele que dizia amá-la. Casos como esse não são isolados. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), o Brasil registrou uma média de um feminicídio a cada seis horas. A violência contra a mulher não afeta apenas as vítimas diretas. Suas consequências atravessam gerações, desestabilizam famílias e deixam marcas profundas nas crianças e jovens que presenciam ou vivenciam esses contextos.

Este texto busca, com base em relatos vividos e em estudos científicos, refletir sobre a relação entre feminicídio, suicídio e os impactos emocionais e sociais da violência doméstica, especialmente no ambiente escolar. Dialoga com dados de órgãos oficiais, pesquisas acadêmicas e legislações vigentes, reforçando o papel da escola como espaço de acolhimento, escuta e proteção.

1-Quando a escola encontra a dor

Enquanto atuava como professora voluntária em um Projeto Social, ONG sem fins lucrativos em São José do Rio Preto, acompanhei um caso marcante. Um menino, aluno do ensino médio, com seus 16 anos de idade, vivenciou uma situação de extremo perigo na Estrada.

Seu padrasto abruptamente abriu a porta do carro em movimento, para empurrar sua mãe para fora do veículo. O jovem, em ato de coragem desesperada, do banco traseiro, voou no pescoço do padrasto e impediu a ação. O carro se desgovernou, saindo da pista e colidindo com o barranco. Ninguém morreu, mas a ferida ficou.

O aluno se ausentou do projeto por alguns dias. Quando retornou, ao adentrar o espaço, notei hematomas visíveis em seu pescoço e braços. Ele me contou, com calma e maturidade assustadora para a idade, que ele e o padrasto lutaram fisicamente dentro do veículo, até que outros motoristas pararam e acionaram a polícia. A confusão só foi contida com a intervenção desses terceiros.

O mais impactante foi seu desabafo: ele deixou claro que já estava se preparando para matar o padrasto, sem que a mãe soubesse. Planejava tudo em silêncio. Sua dor era latente. Sua raiva, imensa. E sua adolescência, roubada por uma violência que não lhe pertencia.

Fiz um relatório munuciosamente detalhado do caso e, com protocolo de recebimento, entreguei aos coordenadores do projeto, que se comprometeram a acionar a escola estadual e a Diretoria de Ensino de São José do Rio Preto, garantindo o encaminhamento do aluno para atendimento psicológico e demais providências necessárias.

2-Efeitos emocionais em crianças e adolescentes que continuam por gerações

A exposição constante à violência gera traumas, ansiedade, fobias, depressão e, muitas vezes, repetição do ciclo violento na vida adulta.

Segundo a OMS (2019), crianças que crescem em lares violentos têm três vezes mais chances de se tornarem agressores ou vítimas na vida adulta.

3. A escola como espaço de acolhimento e segurança

Educadores devem estar preparados para identificar sinais de sofrimento emocional entre seu alunado, escutar com empatia e acionar a rede de proteção.

 A Lei 13.431/2017 estabelece protocolos de escuta protegida para crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência.

Considerações Finais

Feminicídio não é um “crime passional”. É o resultado de uma cultura que ainda permite que homens acreditem possuir mulheres.

É urgente abrir espaço para o diálogo nas escolas, nos lares e nas políticas públicas. O silêncio é cúmplice.

Que nossos atos, palavras e escutas possam salvar vidas.

REFERÊNCIAS
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. São Paulo: RT, 2010.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Violências contra mulheres e suicídio. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 2, 2020.
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
WALKER, Lenore E. The Battered Woman. New York: Harper and Row, 1979.
OMS. Violence against women prevalence estimates, 2018. Geneva: World Health Organization, 2021.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. Disponível em: www.forumseguranca.org.br

Por Roseli M Cuzzo Cury – Consultora Educacional

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